A pobreza agravou-se nos últimos anos em Angra do Heroísmo, nos Açores, e deve ser combatida com medidas dirigidas a crianças e jovens, de fomentação da qualificação e de coesão e desenvolvimento social, segundo um estudo apresentado hoje.
“No geral, a situação é de agravamento da situação de pobreza e exclusão social. Houve um agravamento, com certeza, com a pandemia [de covid-19], mas agora volta a incrementar-se com as situações de guerra. Há uma ênfase das dificuldades recentes das famílias da classe média”, afirmou Gualter Couto, da empresa Fundo de Maneio, que elaborou o Plano Estratégico de Combate à Pobreza e Exclusão Social do município de Angra do Heroísmo para o período 2023-2027.
O documento aponta 40 medidas integradas em três eixos de intervenção: “reduzir a pobreza e a exclusão social infantojuvenil, fomentar a qualificação do emprego e potenciar a coesão e o desenvolvimento local”.
Num arquipélago em que “um em cada três habitantes é considerado pobre”, o plano traça um diagnóstico da situação concreta de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, que cruzou dados estatísticos e inquéritos, com a colaboração de 69 entidades.
Segundo Gualter do Couto, mais de metade da população do concelho tem habilitação igual ou superior ao 3.º ciclo e o número de licenciados está acima da média regional.
Angra do Heroísmo registou, em 2021, um aumento de 2,5% no valor acrescentado bruto (VAB) e apresenta um poder de compra per capita acima da média da região.
Também o número de trabalhadores por conta de outrem inscritos na Segurança Social tem aumentado, mas o preço médio das casas subiu 55%, entre 2016 e 2022, e o preço das rendas 25%.
O concelho é o segundo da região com “mais pessoas em condição de sem-abrigo”, ainda que os números estejam muito abaixo dos registados em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.
Há atualmente 107 respostas de apoio social em Angra do Heroísmo, que abrangem “mais de 5.500 pessoas”, mas o estudo identifica a necessidade de haver mais “trabalho em rede”.
Entre as medidas propostas no plano, estão, por exemplo, ações de sensibilização para o desenvolvimento de competências socioeducativas entre os alunos, programas educativos de arte, desporto e atividades extracurriculares ou programas de consciencialização sobre novas substâncias psicoativas a implementar em escolas.
É proposta também uma feira anual de emprego, uma plataforma digital municipal de promoção de emprego, programas de formação e capacitação para jovens que não estudam e não trabalham e o apoio a projetos de criação de emprego para esses jovens.
O apoio ao arrendamento, a organização de eventos e feiras solidárias, a criação de um programa de vales alimentares e a implementação de ações para o envelhecimento ativo são outras das medidas previstas.
Segundo a vereadora Fátima Amorim, o município já começou a implementar o plano, que prevê parcerias com outras entidades, e “em 2024 serão incrementadas novas ações”.
A autarca destacou a aposta nas medidas destinadas aos jovens e à população com mais de 65 anos, que registou um “aumento bastante significativo” na última década.
“É importante investirmos cada vez mais na educação dos nossos jovens”, frisou, alegando que a autarquia disponibilizou estudo acompanhado, em 2022, e tem vindo a “aumentar o número de alunos” abrangidos, apesar de haver alguma resistência por parte dos pais.
Outra das preocupações do município prende-se com a necessidade de reabilitar e construir mais habitações no concelho.
“Todos os dias nos chegam pedidos para disponibilizar uma casa. Começamos a ficar muito preocupados porque começam-nos a chegar agregados da classe média”, revelou.
Fátima Amorim referiu ainda a aposta em ações de sensibilização de jovens para combate à toxicodependência e em projetos que promovam o envelhecimento ativo junto da população sénior.