Alexandra Manes, Dirigente e deputada do BE/Açores

No passado fim-de-semana, a Associação dos Imigrantes nos Açores (AIPA) assinalou e promoveu um encontro intercultural através de mais uma edição do Dia do Imigrante e do Diálogo Intercultural, em Angra do Heroísmo.

Com um programa vasto que contou com momentos musicais, gastronómicos, workshops e ainda com a apresentação da revista “Viver Aqui”.

Este é um momento de partilha, de degustação, de provas, de cheiros, mas, acima de tudo, de conhecer. Conhecer a cultura de cada uma das pessoas que vive e convive connosco diariamente. Conhecer a cultura de quem, como nós nativos e residentes, contribui para o saldo demográfico, para a economia, para a cultura, para a educação e para a saúde, nesta região.

De Acordo com os dados relativos ao Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, relativo ao ano de 2022, os Açores contam com 5123 imigrantes.

Não conheço as razões de cada pessoa para ter estabelecido residência nesta região, mas conheço casos de amor e outros que, infelizmente, fogem da guerra, da fome e da miséria, procurando uma vida que lhes assegure dignidade.

Os Açores são uma região que viu partir milhares de pessoas. As razões para tal? A procura incessante por uma vida que lhes conferisse a realização dos seus sonhos. E quantas vezes esses sonhos baseavam-se numa vida digna? Partiram para os Estados Unidos da América, Canadá, Brasil, essencialmente. Levaram o Espírito Santo, a gastronomia local e o nosso folclore. Ajudaram a erguer países, a construir estradas e estabeleceram-se, criando espaços recreativos que lhes permitisse o convívio e a partilha da cultura que levaram nas malas e no coração.

É, por isto, e pela sua crueldade, que as palavras aterrorizadoras proferidas por Jorge Rita, figura bem conhecida do panorama regional, pela luta da lavoura nesta região, agora presidente do concelho de ilha de São Miguel, não podem deixar de ser repudiadas.

Um discurso xenófobo relativo à religião e à cultura, em tudo semelhante à verborreia da extrema-direita, no qual assinalava o perigo da mão-de-obra do exterior se refugiar em guetos, prejudicar a imagem dos Açores para o turismo.

Jorge Rita esqueceu a solidariedade que é uma das melhores características açorianas, da nossa diáspora e, acima de tudo, esqueceu-se de que os guetos já existem. São os denominados bairros sociais.

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