A atividade sísmica do vulcão de Santa Bárbara, nos Açores, tem registado “picos de libertação de energia”, mas o alerta sismovulcânico mantém-se em V2, por não haver alterações significativas de outros parâmetros, revelou hoje o vulcanólogo João Luís Gaspar.

“Mantivemos até agora o nível V2, porque a transição para o nível V3, como aconteceu em São Jorge, é de certa maneira determinada pela ocorrência de mais do que um parâmetro a variar significativamente no mesmo tempo e na mesma zona. Não é o que aconteceu aqui na Terceira. As variações que temos são muito pouco significativas e, a manter-se assim, manter-se-á também o nível de alerta”, adiantou João Luís Gaspar.

O vulcanólogo, que é responsável pelo gabinete de crise do Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos (IVAR) da Universidade dos Açores, falava, em declarações aos jornalistas, à margem da instalação de uma estação GNSS (sistema de navegação por satélite), adquirida pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, na freguesia dos Altares.

Desde 24 de junho de 2022 que a atividade sísmica no vulcão de Santa Bárbara, na ilha Terceira, se encontra “acima dos valores normais de referência”, com o nível de alerta científico V2 (possível reativação do sistema – sinais de atividade moderada).

O Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) colocou a ilha de São Jorge em alerta V4, equivalente a ameaça de erupção, entre março e junho de 2022 e só no dia 20 de setembro de 2023 baixou o nível de alerta de V3 (sistema ativo sem iminência de erupção) para V2.

Ao contrário do que aconteceu em São Jorge, onde a atividade sísmica “decresceu ligeiramente nos últimos seis meses”, na Terceira têm ocorrido alguns “picos de libertação de energia”.

“Na Terceira, o comportamento tem sido um pouco inverso. Começámos com uma atividade mais baixa e ela tem vindo a demonstrar, de vez em quando, alguns picos de energia, que vão sendo superiores aos anteriores”, avançou João Luís Gaspar.

No fim de semana, houve novamente um incremente da atividade sísmica na ilha, com dois sismos sentidos pela população, um dos quais com epicentro no vulcão de Santa Bárbara.

Os investigadores do CIVISA e do IVAR continuam a acompanhar a evolução da situação e têm “campanhas previstas para as próximas semanas na ilha Terceira, em áreas distintas”.

“Nós continuamos a acompanhar a crise, com as redes de sismologia, agora também aqui com estes novos equipamentos que nos permitem estudar a deformação crostal. O que podemos fazer é acompanhar o evoluir da situação, contactando com a Proteção Civil, no sentido de a população estar sempre informada”, salientou o vulcanólogo do IVAR.

Segundo João Luís Gaspar, desde o início da crise, para além da atividade sísmica, têm sido monitorizados outros parâmetros como a deformação crostal, a composição química dos gases e o fluxo dos gases, quer ao nível das emanações gasosas, quer ao nível das águas.

“Não temos encontrado valores significativos em mais nenhum parâmetro, o que significa que estamos aqui numa fase ainda particularmente intensa, mas de sismicidade. De qualquer das maneiras, as variações podem não ser muito significativas, mas vir eventualmente a alterar-se”, vincou.

João Luís Gaspar lembrou que para além da crise sísmica do vulcão de Santa Bárbara, que afeta uma “faixa relativamente grande” na ilha Terceira, a atividade sísmica nos Açores “tem-se espalhado um pouco pelo grupo central”, com registos na ilha de São Jorge, a noroeste do Faial e a sudeste da Terceira.

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