Um grupo de associações ambientalistas dos Açores considerou hoje ser falso que exista um excesso de população de aves nativas na região, que vão ser abatidas, com autorização do Governo Regional, devido ao seu impacto nas colheitas.

As associações Amigos dos Açores, Amigos do Calhau, bem como a Associação Nacional de Ambiente, Núcleo Regional dos Açores, consideram que afirmações feitas sobre o abate de aves como o pombo torcaz e e melro negro são proferidas “sem nenhuma base científica ou técnica”.

”Queremos denunciar as recorrentes falsidades com as quais se pretende justificar este novo e grave atentado contra a fauna e a natureza das nossas ilhas”, afirmam as associações ambientalistas, em nota de imprensa.

Em 14 de agosto, o Governo dos Açores esperava ter operacional até ao final do mês um plano de combate às pragas, alertando que existe um “excesso” de população de aves protegidas que estão a causar prejuízos aos agricultores.

“Nós não somos contra as aves protegidas. Queremos é que exista uma população em equilíbrio com aquilo que é a vivência da economia de âmbito agrícola. Neste momento, há um excesso dessas aves protegidas. Estou a falar do melro-preto, pombo-torcaz e da rola-turca”, afirmou o secretário da Agricultura e Desenvolvimento Rural à agência Lusa.

Os ambientalistas consideram que “é falso que exista um excesso de população destas aves nativas”, uma vez que, “na realidade, todas as espécies nativas têm os seus próprios mecanismos de regulação natural, não fazendo qualquer sentido, na ausência de desequilíbrios induzidos, pensar em excessos de população”.

De acordo com as associações ambientais, “não existe, de facto, nenhuma ave nativa nos Açores que possa multiplicar-se de forma rápida e sem controlo criando subitamente uma superpopulação causadora de danos”.

“Pelo contrário, a situação das espécies nativas é muito preocupante em termos de conservação. O pombo-torcaz-dos-Açores é uma espécie incluída no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal [2] e a legislação europeia confere-lhe a máxima proteção, proibindo expressamente o seu abate (Diretiva Aves, Anexo I), proibição que é igualmente aplicável durante o período reprodutor a qualquer outra espécie protegida”, aponta-se no comunicado.

Segundo os ambientalistas, a população do pombo-torcaz-dos-Açores “apresenta-se, na realidade, muito reduzida como consequência da progressiva perda do seu habitat natural, constituído pela floresta laurissilva, quase desaparecida na atualidade, e por causa da caça ilegal”.

“A densidade de população da espécie nos Açores é muito mais baixa do que é habitual para a mesma espécie no continente, contabilizando-se apenas cinco aves/km2 em época pós-reprodutora na maioria das ilhas”, sustenta-se.

De acordo com as associações, existe “frequentemente uma incorreta perceção das espécies que são responsáveis pelos danos nas culturas”, sendo que um recente estudo realizado na ilha Terceira demonstra que “o pombo-torcaz-dos-Açores e o melro-preto-dos-Açores provocam danos pouco significativos neste tipo de culturas”.

“Pelo contrário, as principais responsáveis pelas perdas são duas espécies exóticas invasoras: a lagartixa-da-Madeira (Teira dugesii) e o pardal-doméstico (Passer domesticus), para além das várias espécies de ratos, todas elas igualmente invasoras”, apontam os ambientalistas.

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