O parlamento dos Açores aprovou hoje por unanimidade um voto de saudação pelo centenário de Natália Correia, uma “mulher irreverente e de ação” que nasceu nos Açores, “terra natal pela qual manteve uma permanente paixão”.

O voto de saudação foi apresentado pela deputada socialista Marta Matos na abertura dos trabalhos do terceiro dia do plenário do período legislativo de setembro, o primeiro após as férias de verão, da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, na Horta.

“Será sempre redutor procurar definir em palavras a mulher que o escritor e amigo da autora, Fernando Dacosta, descreveu como ‘um ser tocado pelo sagrado, um desses seres que não cabem no espaço que lhe foi destinado, nem no corpo, nem nas normas’. Mas celebrá-la e homenageá-la nesta que é a casa de todos os açorianos, assinalando os cem anos do seu nascimento, é não só da mais elementar justiça, como é igualmente um dever e uma responsabilidade”, afirmou Marta Matos.

A parlamentar do PS lembrou que Natália de Oliveira Correia nasceu na freguesia da Fajã de Baixo, na ilha de São Miguel, e mudou-se aos 11 anos para Lisboa, com a mãe e com a irmã.

“Mulher irreverente e de ação, numa época em que essa condição chocava a sociedade, adere muito jovem aos movimentos de resistência antifascista, tendo participado no Movimento de Unidade Democrática e apoiado as candidaturas de Norton de Matos e de Humberto Delgado à Presidência da República”, lembrou.

No texto do documento refere-se que Natália Correia “deixou aos Açores, terra natal pela qual manteve uma permanente paixão, o seu espólio literário e as suas próprias cinzas, sepultadas no jardim interior da Biblioteca Pública de Ponta Delgada”.

“Hoje, com o simbolismo ímpar de que se reveste esta casa, onde estão representados todos os açorianos, homenageamos Natália e repetimos as suas palavras de louvor e exortação aos Açores: ‘Para a frente, Açorianos!/Pela paz à terra unida./Largos voos, com ardor, firmamos/ para que mais floresçam os ramos/da vitória merecida. Para a frente! Lutar, batalhar/pelo passado imortal./No futuro a luz semear,/de um povo triunfal’”, afirmou a deputada socialista.

O deputado Joaquim Machado (PSD) disse que faz “todo o sentido assinalar” a efeméride, salientando que Natália Correia é “orgulho dos Açores”.

“Nunca me revi tanto numa pessoa como em Natália Correia. (…) Tal como Natália, luto contra qualquer censura, luto contra qualquer ditadura”, afirmou José Pacheco (Chega).

A deputada Alexandra Manes (BE) salientou que Natália “foi uma das mais importantes pensadoras do século 20 português”.

Do voto de saudação vai ser dado conhecimento à Junta de Freguesia de Fajã de Baixo, à Câmara Municipal de Ponta Delgada, ao Governo Regional dos Açores e à Assembleia da República.

O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, publicou uma mensagem na rede social Twitter onde presta homenagem à vida e obra de Natália Correia.

“Autora de uma obra literária vasta e poderosa, a intervenção cívica e política de Natália Correia foi sempre feita em nome de uma libertação que tinha na poesia o impulso e o horizonte”, afirma o governante na passagem do centenário do nascimento da escritora e poetisa.

E acrescenta: “Para ela, a liberdade e a cultura eram condição uma da outra. Antes do 25 de Abril, lutou contra a ditadura e sofreu a censura e processos judiciais que se tornaram memoráveis. Depois da Revolução, esteve presente em todos os momentos em que se jogou o destino da nossa democracia”.

Poeta, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista, editora, deputada, Natália Correia nasceu em 13 de setembro de 1923, na Ilha de São Miguel, nos Açores, e morreu na madrugada de 16 de março de 1993.

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