O fotojornalista Rui Caria fotografou oito “Mulheres da Terra” para documentar aquela que definiu como vida árdua na lavoura, numa exposição que vai ser inaugurada no sábado, no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas dos Açores.

Urselina, Isilda, Lisandra, Beatriz, Virgínia, Verónica, Denise e Nélia são as mulheres açorianas, naturais da ilha Terceira, com idades entre os 21 e os 80 anos, que dão corpo à exposição.

“Quem trabalha com lavoura não tem tempo sequer para ficar doente, como uma delas me explicou. Isso de facto é assim. Não há lógicas de férias. Nem carnavais, Páscoas ou Natais. Não há. Os animais precisam de ser tratados todos os dias. É um trabalho muito árduo”, afirma Rui Caria à agência Lusa.

O fotojornalista, sediado na ilha Terceira, explicou que a exposição nasceu de um pedido feito pela Leica Galeria do Porto.

“Pensei no que poderia fazer aqui nos Açores. Lembrei-me de uma imagem que me povoava a cabeça há muitos anos quando vi uma mulher a trabalhar na lavoura num dia em que chovia copiosamente. Parei o carro e olhei para a pessoa, que pensava ser um homem. Era uma mulher. Fiquei espantado porque o preconceito veio ao de cima”, reconhece.

Para Rui Caria, aquela imagem “era mais uma prova” de que “não há qualquer possibilidade de fazer a distinção” entre trabalhos de homens e de mulheres.

“O trabalho dessas pessoas é de alguma invisibilidade porque muitas delas estão no meio do mato, nas ilhas. Algumas até se podem ver da beira da estrada, mas uma grande parte está escondida no centro das ilhas, mais longe da estrada e da visão”.

Fotografar o quotidiano das “Mulheres da Terra” foi uma aventura, como diz Rui Caria, uma vez que elas não “estão habituadas a ser fotografadas no seu trabalho”.

“Elas diziam-me: ‘Ninguém quer saber de nós’ e ‘porque é que alguém quer fotografar uma coisa tão suja?’ Foi uma aventura. Integrei-me no trabalho delas e criámos uma certa intimidade que foi muito importante”, revela.

O fotojornalista, com trabalhos premiados internacionalmente, admite que a exposição pode permitir “abrir consciências” e “quebrar preconceitos”, “mesmo que não tenha sido feito com essa intenção” originalmente.

“É mais um documento do que arte. Depois, a forma como fotografamos é a nossa forma de fotografar e tem pouco a ver com arte ou com a busca de alguma coisa. É mais uma natureza nossa. É a forma como vemos as coisas que é impressa nas fotografias e comunicada nas imagens”.

Rui Caria foi distinguido em 2016 com a Câmara de Prata da Federação Europeia de Fotógrafos, na categoria de fotojornalismo, na competição de Fotógrafo Europeu do Ano de 2016.

A exposição vai ser inaugurada no sábado, às 16:00 locais, no Arquipélago, localizado na Ribeira Grande, ilha de São Miguel.

 

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