Os Açores têm de assegurar a sustentabilidade ambiental, que pode ser ameaçada pelo turismo, sob pena de perderem esse produto turístico, defendeu hoje a diretora do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da região.

“Se o impacto for demasiado grande já não vamos ter mais nada para oferecer e a oferta turística dos Açores passa pela valorização ambiental, pela valorização da biodiversidade. Esse é o produto. Os Açores não vendem sol e praia, vendem o contacto com a natureza e portanto é importante que ela esteja preservada, porque, se não estiver, já não há produto para vender”, afirmou a diretora do CIBIO da Universidade dos Açores, Ana Cristina Costa.

A investigadora falava, em declarações aos jornalistas, na Praia da Vitória, na ilha Terceira, à margem da sessão de abertura do I Encontro de Redes da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) dos Açores, organizada pelo CIBIO.

Pela mão do professor Luís Silva, o CIBIO conquistou recentemente a primeira cátedra UNESCO dos Açores, que tem como objetivo a promoção da biodiversidade e da sustentabilidade em ilhas.

Questionada sobre o exemplo dos Açores, Ana Cristina Costa admitiu que o crescimento do turismo levanta algumas preocupações aos investigadores do CIBIO.

“Somos todos investigadores na área da biodiversidade e, portanto, estamos a par e preocupados com a situação e com o impacto que determinadas atividades turísticas estão a ter, mas não só, se calhar tem a ver com a intensidade dessas atividades em pontos muito específicos e, portanto, se calhar, [é preciso] uma maior gestão da atividade para garantir que também haja a possibilidade de ela ser permanente e ser sustentável a longo prazo”, apontou.

Além da cátedra, o encontro, que conta com a participação de cerca de três dezenas de participantes, junta na Praia da Vitória representantes das diversas redes UNESCO existentes nos Açores, como bibliotecas, escolas, clubes, cidades de aprendizagem, geoparques, sítios que integram a lista de Património Mundial e reservas da biosfera.

Segundo a diretora do CIBIO, o encontro pode promover um maior “entrosamento entre as várias redes” e uma maior divulgação do trabalho que desenvolvem.

“Nós temos esse património, temos imensa coisa reconhecida com valor pela UNESCO, que é uma instituição que tem um peso internacional muito grande, e se calhar não valorizamos o facto de termos esta chancela”, explicou.

Na ilha Terceira, onde Angra do Heroísmo foi a primeira cidade património mundial da UNESCO em Portugal, na ilha do Pico, onde a paisagem da vinha é património da Humanidade, ou nas ilhas de São Jorge, Graciosa, Flores e Corvo, que têm reservas da biosfera, a importância da chancela da organização internacional já tem alguma visibilidade.

“As pessoas já perceberam que isso traz outros benefícios, inclusivamente económicos, porque é atrativo do ponto de vista turístico, mas também por isso é preciso tomar conta e valorizar da maneira mais sustentável possível, porque a sustentabilidade é uma grande preocupação ao nível da UNESCO”, sublinhou Ana Cristina Costa.

Para a secretária executiva da comissão nacional da UNESCO, Rita Brasil Brito, este encontro é importante, sobretudo para promover o conhecimento, mas pode também ser um “estímulo para novos projetos”.

“Há várias áreas em que podem confluir interesses, por exemplo na área da Educação ou da Cultura. [Podem] conhecer-se uns aos outros, mas também darem a conhecer o que fazem e potenciar a sua ação. É muito importante. Geram sinergias, podem divulgar boas práticas, podem daí surgir novas ideias”, salientou.

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