Rui Teixeira, dirigente do PCP Açores

As Jornadas Mundiais da Juventude revelaram muitos aspetos dignos de nota. E é indiscutível que muitas serão as questões sensíveis enfrentadas, atualmente, pelas diversas religiões. A Igreja Católica não escapa a essas reflexões e transformações, que farão parte da evolução social e do contexto sociocultural em que vivemos. Mas, de todas elas, destaco a consolidação da doutrina social da Igreja Católica, em sentido oposto aos poderes político e económico. Esta é uma evolução claramente positiva, de profundo sentido humanista e social. Curiosamente, as questões que mais tocam a generalidade das pessoas são as primeiras a serem ignoradas ou desvalorizadas, no plano mediático.

Têm sido frequentes os discursos do Papa Francisco com duras críticas às desigualdades sociais e com a afirmação da necessidade da distribuição justa da riqueza. É crescente o apelo ao respeito pelas diferenças e ao diálogo entre culturas, destacando-se a ideia de que o Ser Humano e cada Ser Humano tem valor por si só, independentemente das suas convicções religiosas. Recentemente, o Papa Francisco afirmou que “não há trabalhadores livres sem sindicatos.” Já há 6 anos, tinha afirmado que “Não existe uma boa sociedade sem um bom sindicato, e não existe um sindicato bom que não renasça todos os dias nas periferias, que não transforme as pedras descartadas da economia em pedras angulares. (…) Não há justiça juntos se não for junto com os excluídos de hoje.” Assume, assim, que é necessário valorizar o trabalho e os trabalhadores. Assume, assim, o lado dos mais fracos, dos excluídos. Não é possível ignorar a proximidade entre estes posicionamentos e aquilo que foi construído pelo Povo Português na Revolução de Abril!

No plano das guerras promovidas por todo o planeta, destaca-se o apelo às negociações de paz e ao silenciar das armas. É constante a crítica a quem alimenta a guerra com mais armas e sanções, que apenas têm dificultado o diálogo. O Papa Francisco tem mesmo afirmado que a guerra na Ucrânia é alimentada por diversos interesses, destacando os que ganham com a própria guerra…

Estes posicionamentos revelam uma enorme dimensão humana e exigem muita coragem. Sem estar a procurar qualquer relação abusiva entre as duas figuras, porque seria excessivamente simplista e, até, demagógico, vejo um paralelismo substancial entre o último discurso do Papa Francisco aos jovens e a ideia deixada por Álvaro Cunhal, na sua última vontade, conhecida no seu funeral: “A todos desejo que, vida fora, realizem os seus sonhos”. Exortar cada um a ultrapassar os seus medos e procurar realizar os sonhos, ideia expressa pelo Papa Francisco, corresponde ao essencial da ação diária dos comunistas, construindo uma sociedade em que a felicidade de cada um contribui para a felicidade de todos. Nessa ação, inserem-se, sem dúvida, os Católicos que, sendo ou não comunistas, desejam e lutam por uma sociedade melhor. Por uma sociedade com um caráter indiscutivelmente mais humanista do que aquela em que vivemos. Essa construção será uma longa Jornada, para a qual as Jornadas Mundiais da Juventude deram um contributo bastante relevante. A quem tenha dúvidas desse contributo, sugiro que olhe para o silêncio da extrema direita, sempre muito rápida a instrumentalizar os sentimentos religiosos, procurando melhor servir os poderosos interesses económicos que os movem!

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