Vem de longe a relação entre política e futebol, diria melhor, a promiscuidade entre o que de pior existe num e noutro campo. Não é um fenómeno tipicamente português, mas também faz história por estas bandas – do famoso totonegócio a viagens e bilhetes de ingresso trocados por simpatias e influências duvidosas. E não é exclusivo de um clube; Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa chegaram a ser recebidos em almoços na Assembleia da República quase ao jeito de chefes de estado e António Costa prestou-se a apoiar a candidatura do deposto presidente do Benfica…
Governantes e deputados renunciaram ao cargo apanhados fora-de-jogo nesta relação sem fronteiras e regras definidas.
O Presidente da República e o Primeiro-Ministro raramente falham um jogo da seleção, onde quer que a equipa lusa vá a jogo, acompanhados ou substituídos por ministros e secretários de Estado, que também se sentem com direito a estes momentos de notoriedade nacional.
Mais uma vez foi assim, com a seleção feminina. Nos antípodas, além da inusitada participação no campeonato do mundo (que só atesta o nosso atraso), a viagem já de si era apelativa. Lá foram suas excelências de abalada para a Nova Zelândia, incluindo a ministra do Trabalho, que proferiu umas vulgaridades futebolísticas próprias de quem nada sabe da bola.
Enfim, não fora a eliminação da nossa equipa e outras ministeriáveis figuras tratariam de representar o povinho luso em momento tão histórico. Quando a glorificação de uma Nação está numas chuteiras coloridas, podemos encomendar o destino o Criador. O fastio é inevitável.