Celebração de dedicação da nova igreja será presidida pelo bispo de Angra

A ouvidoria do Faial inaugura no próximo dia 23 de julho, pelas 16h00, a nova Igreja de Pedro Miguel, uma das duas últimas igrejas a reconstruir de um total de 13 templos afectados pelo sismo de 1998, que destruiu 75% do parque habitacional da ilha. A celebração será presidida pelo bispo de Angra.

“Não tem sido um caminho fácil. Logo após o sismo, um grupo de pessoas de boa vontade uniu-se para trabalhar na reconstrução da igreja. O sismo deixou a igreja em mau estado, mas o pior foi um incêndio, cuja a origem se desconhece, que ainda tornou o processo mais complexo” referiu ao Sítio Igreja Açores o pároco, padre Bruno Esteves Rodrigues.

O projecto foi aprovado em 2007,  mas só em 2018 obteve autorização para avançar.

“Esta paróquia não teve vida fácil. Perdeu a sua casa maior (igreja) e teve de celebrar a fé em espaços improvisados, sem condições para o culto e para albergar todo o património móvel que foi resguardado” esclarece ainda.

Ao longo destes anos, multiplicaram-se as acções de angariação de fundos: sopas do Espírito Santo, jantares de São Martinho, venda de massa sovada, filhoses, sem esquecer em cada ano a Festa da Padroeira.

“A comunidade tem sido extraordinária no apoio e na colaboração prestada em cada uma destas actividades. Mas, devo realçar o apoio e a solidariedade prestada pela população da ilha” diz ainda o sacerdote sublinhando, por isso, que “as pessoas no geral estão felizes por este acontecimento”. E, “Não só estão entusiasmadas as pessoas da comunidade,  mas em toda a ilha do Faial há pessoas radiantes com esta data”, refere o pároco.

A obra representa um investimento global de cerca de 2,5 milhões de euros, sendo cerca de 1,7 milhões suportados pelo Governo, no âmbito do protocolo assinado com o Diocese de Angra para a recuperação dos templos das ilhas do Faial e do Pico.

No âmbito deste protocolo, a Região comprometeu-se a pagar 75% do empréstimo bancário e os juros do capital, na íntegra, nos primeiros dois terços do tempo de duração do financiamento, enquanto que as Paróquias ficam responsáveis pelo pagamento dos restantes 25%.

A nova Igreja, feita de raíz, tem agora capacidade para 180 pessoas sentadas. O projeto de arquitetura é da autoria do arquiteto madeirense João da Cunha Paredes, que assina o projeto de várias igrejas construídas na Diocese do Funchal e no Continente.

A paróquia de Pedro Miguel foi uma das 13 paróquias do Faial que desde o sismo ficou sem um lugar de culto.

Na madrugada de 09 de julho de 1998, um terramoto com uma magnitude de 5,9 na escala de Richter deitou por terra muitas moradias no concelho da Horta, o único do Faial, onde prevaleciam as casas tradicionalmente construídas em pedra e barro. Além da destruição de grande parte do parque habitacional do Faial e das oito mortes que causou, o sismo danificou, ainda, cerca 20% das casas da vizinha ilha do Pico.

“Quando aconteceu o sismo, tinha eu 15 anos. E ouvi isto de um velhote: o sismo durou 20 segundos, levarão 20 anos para reconstruir tudo. Há muito ainda para fazer… temos casas novas, mas as pessoas não se renovaram. Talvez até se tenham tornado mais egoístas” ressalva ainda o sacerdote que não deixa de fazer notar que o sismo, tal como a pandemia, trouxe coisas más mas também coisas boas.

“Do sismo surgiram coisas boas e outras menos boas. Com o sismo perdeu-se o sentido de Fraternidade e de vizinhança. As casas estão certamente mais sólidas, mas os corações, instáveis e frágeis. É necessário mudar a forma como se evangeliza. Cristo é o centro e nada mais. Sem Ele, tudo sabe a etnografia” diz ainda o padre Bruno Esteves Rodrigues.

“O templo é o elemento identificativo da comunidade cristã, uma referência. Já o era no seio do Povo de Israel. Com o sismo de 98 sentimos que existiram  mudanças. Diminuição da prática dominical, falta de compromisso, desmotivação, etc. Os anos passaram e as pessoas começaram a desconfiar que nunca mais tinham igreja. Já diz o ditado: quem espera, desespera. Mas também se diz: quem espera sempre alcança”, acrescenta ainda.

“Foi uma travessia no deserto cheia de provações. Mas nada acontece que não seja pela permissão divina. Acredito que a seu tempo a comunidade há-de recompor-se. E que os filhos voltarão para a casa-mãe”, conclui.

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