As obras “Sardoal”, de João Rasteiro, e “Egoscopia ou a Mecânica Geral de Si Mesmo”, de Leonel Barbosa, venceram, na categoria de poesia, o Prémio Literário Natália Correia, com os autores a manifestarem-se hoje “extremamente honrados” com a distinção.
É a primeira vez que o prémio, promovido pela autarquia de Ponta Delgada, é atribuído a duas obras vencedoras, por entre as 218 obras poéticas que se candidataram a esta terceira edição do concurso.
O prémio foi hoje atribuído numa cerimónia no salão nobre dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Ponta Delgada.
“Ganhar o prémio no ano centenário [da escritora] é qualquer coisa muito marcante. Talvez só comparável ao prémio literário Manuel António Pina que ganhei. Natália Correia é uma figura absolutamente extraordinária das últimas décadas da vida portuguesa, literária, política social e cívica”, sublinhou João Rasteiro, em declarações à agência Lusa.
Sobre a obra “Sardoal”, João Rasteiro explicou que os poemas tentam retratar a sua infância, na aldeia do Ameal, perto de Coimbra, “num seio familiar de muitas dificuldades ao nível monetário e cultural”, um mundo com “virtudes e defeitos”, mas onde as crianças “conseguiam ser felizes”.
“O que modificou completamente o meu mundo foi aos seis anos inscrever-me na biblioteca itinerante da Gulbenkian e aos 15 anos tinha praticamente lido todos os clássicos russos e franceses”, assinalou, ainda, remetendo para “uma infância feliz”.
Em declarações à Lusa Leonel Barbosa disse estar “extremamente honrado”, sublinhando ser “o primeiro livro que fisicamente tem”, o que materializa “um sonho de há muitos anos”.
O poeta, que é também médico de profissão, explicou que desde que terminou a especialidade em otorrinolaringologia tem escrito “de uma forma mais dedicada”, mas esta é “a primeira obra a sério”.
“No centenário de Natália Correia não podia ser uma data mais simbólica, pois poucas figuras têm o impacto que ela teve e para mim ter a minha obra associada a ela vem trazer grande alegria e grande ansiedade. Tenho de corresponder a este nível de desenvoltura poética e desenvoltura cívica de participação social”, referiu.
Em relação à obra “Egoscopia”, Leonel Barbosa explicou à Lusa que o livro de poesia “será como um instrumento de inspeção das entranhas intelectuais e emocionais de um homem”, que depois “analisa estes mecanismos e esses fenómenos emocionais e tenta sublimá-los”.
O presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada sublinhou que o prémio “exalta a obra e a vida” da poetisa nascida em Ponta Delgada, a 13 de setembro de 1923, na freguesia da Fajã de Baixo e que faleceu em 16 de março de 1993, em Lisboa.
Na cerimónia, o autarca Pedro Nacimento Cabral (PSD) destacou “a excelência litéria” dos autores premiados, salientando que o prémio é um dos momentos altos do programa comemorativo do centenário do nascimento da poetisa, destacando “a eterna ligação” de Natália Correia a Ponta Delgada e aos Açores.
“Comemorar o nascimento da grande Natália Correia é fazer permanecer pelas gerações tudo o que ela significou e significa: um ser de liberdade, cujos ideiais, mais do que lembrados, devem ser replicados e praticados, quanto mais neste momento da história que se inscreve incerta”, reforçou.
Pedro Nascimento Cabral referiu-se ao projeto “Natália vai à escola” que está a ser desenvolvido em colaboração com as universidades dos Açores e de Coimbra para preservar e divulgar o legado da poetisa açoriana e promover o gosto pela leitura e pelos estudos literários junto dos jovens.
O Prémio Literário Natália Correia visa homenagear “um dos grandes vultos femininos do século XX”, natural de Ponta Delgada e incentivar e apoiar o desenvolvimento das artes literárias, fomentando a criatividade, o gosto pela leitura e pela escrita, materializando assim a diversidade cultural, artística e de pensamento.