Gualter Furtado

Começo por endereçar os meus Parabéns pelo 184º Aniversário do Concelho da Povoação, e que se realizou neste dia 3 de julho de 2023.

É com muito gosto e reconhecimento que agradeço à Câmara Municipal da Povoação, ao seu Presidente, o Dr. Pedro Nuno Sousa Melo, à Senhora Vereadora e aos Senhores Vereadores e a todos os que tornaram possível esta Homenagem que a Câmara Municipal me fez atribuindo-me o Estatuto de Cidadão Honorário do Concelho.

Aceito esta Distinção com humildade e a responsabilidade que este ato representa.

Foi para mim uma bênção de Deus ter nascido no Vale das Furnas, uma Freguesia que com a Água Retorta, Faial da Terra, Nossa Senhora dos Remédios, Povoação e a Ribeira Quente, constituem o Concelho da Povoação. Foi uma felicidade ter nascido na família que nasci e ter tido os amigos com quem cresci e firmei a minha personalidade, no Vale das Furnas, mas também na Ribeira Quente.

Um Concelho herdeiro da primeira povoação e berço dos primeiros povoadores da ilha de São Miguel, onde se construiu a primeira Igreja e se celebrou a primeira missa nesta ilha do Arcanjo de São Miguel. Foi aqui onde tudo começou na ilha de São Miguel, em matéria de povoamento da ilha e posteriormente com relevância em atividades económicas como a pesca, a produção de cereal, madeiras, produções de vimes, inhames, de mel, pomares de fruta variada, construção naval, termalismo, turismo e até produção de água, e aproveitando do facto de as Furnas serem uma Hidrópole de referência.

Hoje o Concelho da Povoação depara-se com muitos Desafios e Constrangimentos, e que relevo nestes últimos as dificuldades relacionadas com as acessibilidades, apontando como exemplo extremo a Ribeira Quente, a necessitar urgentemente de respostas fundamentadas em opções técnicas que permitam solucionar um recorrente sobre isolamento inadmissível nos dias de hoje. Naturalmente, que esta resposta tem de ser coordenada com o poder local, mas ela é principalmente uma responsabilidade regional, e mesmo sabendo das dificuldades financeiras estruturais com que se defronta o Governo da Região Autónoma dos Açores, existem, ou, existiram vários apoios da União Europeia que claramente podem, ou, poderiam numa escala de prioridades reais serem afetados a este problema que ciclicamente afeta sobremaneira a população da Ribeira Quente, já que se trata de uma prioridade e uma elementar justiça para com um Povo Resiliente.

Um outro constrangimento e que não é exclusivo do Concelho da Povoação é a Demografia, vivemos nos Açores num Inverno Demográfico, com reflexos no despovoamento e envelhecimento que ameaça a sustentabilidade da nossa Região, colocando já hoje dificuldades no recrutamento de recursos humanos em áreas como a agricultura, as pescas e o turismo. Dos 19 Concelhos dos Açores no Censo de 2021 em comparação com o Censo de 2011, 18 perderam população, apenas o Concelho da Madalena aumentou de população residente nesta última década, mas insuficiente para compensar as evoluções negativas dos Concelhos das Lajes e de São Roque da ilha do Pico. O Concelho da Povoação neste período de 2011 para 2021 viu a sua população residente passar de 6327 residentes para 5796 residentes, o que representa uma evolução negativa de 8,4%. Esta situação só se contraria com melhores acessibilidades, serviços adequados de oferta em educação e serviços de saúde eficientes e de qualidade, e principalmente mais economia que permita melhor remuneração dos fatores de produção, incluindo o emprego. Sem economia dinâmica e forte é difícil fixar e atrair novas populações jovens. A habitação é muito importante, mas é insuficiente. Só com políticas públicas rigorosas e atrativas para o investimento privado e o emprego, é que chegamos lá. Um outro constrangimento, que pode ser um desafio, mas que presentemente é mais uma ameaça, prende-se com a procura extraordinária por turistas locais, nacionais e estrangeiros pelas belezas naturais e gastronomia das Furnas, o que exige uma resposta acrescida por parte dos poderes públicos, incluindo do Governo Regional dos Açores e que não está a acontecer na medida do desejável, refiro-me ao ordenamento do território, manutenção e criação de equipamentos públicos, incluindo os relacionados com a gestão do transito, recolha e tratamento do lixo, acompanhamento e arranjo das fontes termais, caminhos e miradouros, gestão integrada da Lagoa das Furnas, incluindo o combate à eutrofização da Lagoa,  ora se estes pormenores que devem ser programados e intervencionados com a ação e o cuidado extremo que a realidade das Furnas exigem, não acontecerem, então, corre-se mesmo o risco de se matar a Galinha dos Ovos de Ouro. Os Benefícios e os Custos com o Vale das Furnas, repito novamente que são pela sua notoriedade e impacto em todos os Açores uma questão Regional e não só Local. E se for entendido que devem ser da responsabilidade Local, muitas destas intervenções, então, devem ser assegurados os meios humanos, técnicos e financeiros adequados ao desempenho deste Trabalho.

Entrando agora propriamente nos Desafios, é sabido e é inegável que o Concelho da Povoação no seu todo e em cada uma das suas Freguesias apresenta grandes potencialidades para a agricultura, as pescas, produtos como o queijo, os bolos lêvedos, as fofas, licores, o Turismo de qualidade, inclusivamente em setores de investigação relacionados com o vulcanismo, e o termalismo de grande relevância, podendo ser mesmo um polo atrativo para cientistas e estudantes de todo o mundo, e aqui novamente a resposta tem de ser partilhada com a Universidade dos Açores, mas também com o Governo da Região Autónoma dos Açores e até mesmo com o Governo da República.

Mas para que estas atividades económicas ganhem sustentabilidade necessitam de quem as produza e sejam transformadas em valor, isto é, de quem as compre a um preço que compense. Em síntese, precisamos de fixar gente no Concelho (e nos Açores) e Clientes dispostos a pagar e bem o que produzimos com qualidade. Só assim temos uma economia rentável e sustentável.

Sempre defendi que os Açores valem pelo seu todo, no respeito pelas suas diferenças e valorizando muito as suas complementaridades, pois, valemos muito mais como Arquipélago do que cada ilha por si, mas paralelamente nunca escondi o orgulho que sinto por ser Furnense, e ter nascido neste Concelho.

Razão por que tudo o que fizermos para valorizar as nossas Instituições Culturais, como são as Bandas de Música, os Grupos de Teatro, os Grupos de Folclore, os Grupos Musicais, o Ensino Público e Profissional, sem esquecer os Grupos Desportivos, que devem ser escolas de saúde e mesmo de cidadania, a par dos Bombeiros, e o Cinema, estamos a cimentar a nossa História e a contruir um Concelho com Futuro, e a contribuir para uns Açores melhores.

Uma palavra também muito especial para o “Um Olhar Povoacense” que de facto é um registo notável do nosso passado e presente, dos que já partiram para outra dimensão, das nossas Felicidades e Angústias, dos feitos das nossas gentes, nos mais variados domínios, que vão do público ao privado, e é uma ponte que liga os Povoacenses de cá, à nossa Diáspora, onde residem muitos dos melhores de nós, mas sempre com o coração nestas nossas 6 Freguesias.

Termino agradecendo novamente à Câmara Municipal da Povoação esta Distinção e Responsabilidade de ser Cidadão Honorário do nosso Concelho, renovando os meus Parabéns pelo seu Aniversário.

Ser Cidadão Honorário, tal como eu o interpreto, exige disponibilidade, cooperação, exigência, solidariedade, análise crítica sempre que for necessário e Democracia.

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