Ao pedalar 4.800 quilómetros em 11 dias, João Pombinho tornou-se o primeiro português a concluir a Race Across America, a ‘prova rainha’ do ultraciclismo, que exige “físico, planeamento e força mental”, segundo explicou à Lusa.

“Numa prova como o Race Across America [RAAM], tem de se juntar outros ingredientes ao físico. Por um lado, a força mental, por outro, o planeamento. Arrisco-me a dizer que nenhum ciclista, por melhor que seja, cai na RAAM e faz a RAAM. O físico sozinho não leva ninguém ao fim da prova”, afirmou.

João Pombinho, engenheiro informático de profissão, pedalou 4.800 quilómetros durante 11 dias nos Estados Unidos, com início a 13 de junho em Oceanside, na Califórnia, e chegada em Annapolis, Maryland, no passado domingo.

Foi acompanhado por uma equipa de sete pessoas, que trataram da “condução, navegação, preparação de equipamentos e de comidas”.

“Quando se fala em prova rainha é porque isto equivale à Volta à França do ultraciclismo. É a volta maior. É uma prova que tem cerca de 30% mais de distância do que a Volta a França e que é feita em metade do tempo e sem dias de descanso”, comparou.

João Pombinho destacou que a RAAM é uma prova “muito heterogénea”, que obriga a “desafios diversos”. No seu caso, por exemplo, passou por cenários com “falta de oxigénio” a 3.200 metros de altura, menos de dois dias depois de ter estado no deserto, a zero metros, com 50 graus.

“É um choque muito grande para o corpo em termos de disponibilidade de oxigénio e de temperatura. Há coisas que temos de jogar na antecipação. No deserto, por exemplo, antes de qualquer sintoma, coloquei gotas lubrificantes regularmente nos olhos”, afirmou.

Ao longo dos 11 dias, alimentou-se das “refeições possíveis de comer em andamento”, como “sandes de compota ou de manteiga de amendoim”, procurando ter atenção aos hidratos e às proteínas para “prevenir a perda de massa muscular”.

“Tudo o que pode se feito na ‘bike’ tem de ser feito na ‘bike’. É um dos princípios sagrados”, notou.

No último ano, João Pombinho e a equipa prepararam-se através de nove treinos em que “ensaiaram paragens, trocas de equipamentos e o tipo de comida que funciona ou não conforme os ambientes”.

“Há um conjunto de dificuldades físicas que tem a ver com o facto de o corpo estar permanentemente numa posição restrita. É preciso alongar o pescoço e os ombros. Depois há zonas de fricção que têm de ser geridas com pinças”, sinalizou.

O ultraciclista amador, conhecido por ‘Iron Pigeon’, intensificou a atividade desportiva em 2016, como forma de “lidar com a partida prematura do pai”, que era um “apaixonado pelo ciclismo”.

Antes da RAAM, participou em diversas provas, contando com presenças nos cinco ‘Monumentos’ do ciclismo (Milão-Sanremo, Volta à Flandres, Paris-Roubaix, Liège-Bastogne-Liège e a Volta à Lombardia).

Agora, já tem presença marcada na edição de agosto do Paris-Brest-Paris, a “prova de ultraciclismo mais antiga do mundo”, cuja origem remonta a 1891.

“Eu nunca vou para uma prova sem estar inscrito em outra. É uma regra que tenho”, concluiu.

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