Na semana passada, foi publicado o mais recente relatório “Índice de Normas Sociais de Género”, da responsabilidade do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), revelando que o preconceito contra as mulheres continua profundamente enraizado em grande parte do mundo e praticamente não diminuiu na última década.
O relatório aponta para o facto de 25% das e dos entrevistados acreditar que “é justificável um homem agredir a sua companheira”! Século XXI!!
Estes preconceitos originam obstáculos para as mulheres e vêm reduzindo os seus direitos em muitas partes do mundo, com movimentos contra a igualdade de género a ganhar força, resultando em sérias violações dos direitos humanos.
De igual forma, os preconceitos também se refletem na falta de representação feminina em posições de liderança. Em média, a proporção de mulheres como chefes de Estado ou de governo manteve-se em torno de 10% desde 1995. No mercado de trabalho, ocupam menos de um terço dos cargos de gerência.
O relatório salienta, ainda, a falta de conexão entre o progresso das mulheres na educação e o empoderamento económico. Em 59 países, onde mais mulheres possuem formação do que os homens, a diferença média do gender pay gap permanece em 39% a favor dos homens.
Fica provada a necessidade de encorajar inovações para desafiar normas sociais, atitudes patriarcais e estereótipos de género, sem esquecer o combate ao discurso de ódio nas redes sociais e a desinformação de género, como mecanismos para ajudar a mudar as normas de género e aumentar a aceitação e igualdade.
Há que, sem receios, abordar diretamente as normas sociais por meio da educação para mudar as opiniões, reconhecendo os direitos das mulheres em todas as esferas da vida e ampliando a representação na tomada de decisões e nos processos políticos.
António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, já havia lançado o alerta, em março, para a estagnação da igualdade de género, dizendo que esse progresso “desaparece diante dos nossos olhos” e que essa se encontra “a 300 anos de distância”.
Isto merece uma reflexão de todas e todos nós, ainda mais quando temos decisores políticos que, na Casa da Democracia, não têm qualquer pudor em classificar o comportamento das mulheres como histerismo, sabendo bem do carácter pejorativo que essa classificação tem desde há séculos.
Sim, é verdade. O Sr. deputado do chega, decisor político, com responsabilidades nesta região, classificou o meu aparte como histerismo, acompanhado pelos risos de outras bancadas.
O sr. já nos habituou a dizer tudo e o seu contrário, e quando confrontado com o facto de o seu partido defender a privatização das escolas, decidiu chamar-me de histérica e, ainda, desrespeitar o Presidente da Assembleia Legislativa dos Açores, abandonando a sala de plenário, que aliás já havia feito no dia anterior.
Não foi a primeira vez que o deputado, em questão, desrespeitou as mulheres. Em apartes já adjetivou outra deputada de galinha, já disse que a senhora não percebia nada do tema em debate, contou que já havia respondido a uma mulher, que cuidava de crianças, se ela se estava o oferecer para fazer filhos com ele…pasmem-se, ou não, sempre acompanhado por sorrisos que permitem o bafio do conservadorismo que impera nalgumas bancadas.
Até hoje tento compreender as risadas de algumas bancadas. Será que não percebem que é esse tipo de comportamento que reabre a legitimidade e a impunidade para que tratem as suas filhas, tias, primas, netas e mães da mesma forma, quando estas ousarem fazer-se ouvir?