O representante da República para os Açores, Pedro Catarino, alertou hoje para o crescimento do populismo, em várias partes do mundo, apelando a uma reforma das instituições democráticas e à formação de jovens para o combater.

“É uma ilusão achar que o problema populista vai desaparecer por si ou que se resolve com cercos sanitários. Também aqui é preciso definir um caminho seguro de reforma e modernização das instituições democráticas, reconhecendo os erros do passado e evitando a sua repetição no futuro e preparar os jovens com uma sólida formação”, afirmou Pedro Catarino, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, nas comemorações do Dia de Portugal.

A “clara regressão democrática”, provocada pela “emergência de líderes e movimentos populistas um pouco por todo o mundo”, foi um dos cinco desafios identificados pelo representante da República para a Região Autónoma dos Açores, no discurso do 10 de junho.

A segurança coletiva, a emergência climática, a transição digital e as desigualdades sociais mereceram também um alerta de Pedro Catarino, que ressalvou, no entanto, os “progressos importantes” de Portugal e da União Europeia na resposta a estes desafios.

Salientando que o populismo é uma estratégia para alcançar o poder, “utilizada tanto à direita como à esquerda”, através da mobilização dos “excluídos” e “indignados”, o representante da República chamou à atenção para o uso das redes sociais para um contacto direto com os eleitores.

“Os populistas dividem a sociedade em termos dicotómicos – os nacionais e os imigrantes, os puros e os corruptos, o povo trabalhador e os políticos –, prometem soluções fáceis para problemas complexos e aspiram pelo regresso a um passado de glória e prosperidade”, apontou.

Pedro Catarino defendeu, por outro lado, a necessidade de combater as desigualdades sociais, em concreto a “desigualdade de rendimentos”, que coloca dificuldades de acesso a educação, saúde e habitação com qualidade aos que “desempregados ou, mesmo tendo emprego, têm um rendimento mensal que os deixa abaixo do limiar da pobreza”.

Quanto à transição digital, disse que as oportunidades devem ser distribuídas “equitativamente entre todos os cidadãos”.

“É preciso dotar as pessoas de novos direitos fundamentais, que lhes permitam aceder livremente ao universo digital, navegar aí em segurança, garantir a sua privacidade, proteger a sua dignidade em face de aplicações maliciosas da inteligência artificial e, bem assim, garantir a liberdade de expressão nas novas plataformas digitais, em especial nas redes sociais”, avançou, elogiando o exemplo de Portugal com a recente aprovação da Carta de Direitos para a Era Digital.

Os “evidentes sinais” de emergência climática, como o “aumento da temperatura da Terra e a subida do nível do mar”, motivaram também um alerta de Pedro Catarino, que ressalvou, ainda assim, que os Açores “têm sido e podem ser ainda mais um exemplo de boas práticas de preservação ambiental” e que Portugal e a União Europeia têm feito um grande esforço para “atingir a neutralidade carbónica num horizonte temporal razoável”.

“As assimetrias entre o Norte e o Sul e entre os diferentes blocos económicos são gritantes. As instituições da comunidade internacional têm de manter uma forte pressão diplomática sobre os principais poluidores, mas também têm de apoiar os países mais pobres a promover o seu desenvolvimento económico de uma forma mais sustentável”, frisou.

À semelhança do que já tinha feito em 2022, o representante da República para os Açores deixou também uma palavra sobre a guerra na Ucrânia, reforçando a necessidade de “preservação da paz e da segurança coletiva”.

“Portugal, com os seus parceiros da NATO e com os demais Estados-Membros da União Europeia, tem de se manter firme e solidário na defesa da Ucrânia e do seu povo martirizado. Falhar no apoio à Ucrânia terá, não tenhamos dúvidas, consequências irreversíveis na nova ordem geopolítica global”, vincou.

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