Já escrevi e volto a repetir: na política, tal como na vida, ninguém faz tudo bem feito. A divisão entre o “nós, os bons” e “eles, os maus”, para além de roçar a infantilidade, demonstra uma profunda desonestidade intelectual. E aqui entra o título do presente texto. Na política, pelo menos no seu verdadeiro sentido, é preciso agir sempre com base na verdade e com coerência. Isto implica ter memória e atuar com liberdade. Vem isto a propósito do que vou vendo e lendo por aí. O partido ou partidos que estão no poder criticam a herança recebida. O partido ou partidos que estão na oposição, e que tiveram responsabilidades na governação, criticam a incapacidade ou ritmo do governo. Uns e outros até podem ter razão, mas, por regra, perdem-na por falta de memória histórica. Os partidos recusam-se a fazer autocrítica e os políticos profissionais saltam quase sempre o item da autoavaliação. E isso é fundamental para recuperar o respeito do eleitorado. Tal como é imprescindível dar sempre a cara e não se refugiar em silêncios ou em intervenções em espaços fechados. Se se seguir todas estas elementares regras, evita-se ser “apanhado na curva”. Ainda há dias vi um partido (PSD) trazer para um debate com o Primeiro-Ministro um determinado processo judicial em curso.
A ideia, básica, era atingir dois ministros do atual Governo. Acontece que, na mesma bancada e sentado umas filas atrás do deputado em causa, estava uma das personagens principais da caldeirada alfacinha. Também por cá se vê esquecimentos parecidos. Há um partido (PS), que até foi governo durante 24 anos, que dia sim, dia sim, vem dizer qualquer coisa. Ora, esta incontinência política leva os diversos intervenientes a incumprirem, sistematicamente, as regras elementares acima elencadas. A relação com o Governo da República tem sido um campo para enormes ziguezagues. A SATA idem. O Serviço Regional de Saúde idem. E os exemplos podiam continuar. Todos estas áreas deixam-me inquieto. E a razão é simples: podia ser diferente. Concluo, pela métrica seguida, que é mesmo uma opção devidamente ponderada. Não virar a página é, portanto, o caminho. Obviamente, que esse caminho não tem saída. O PS está num beco e recusa sair dele. Só isso é que explica a defesa cega do Governo da República. O tal da continuidade territorial no tempo do Covid. O tal do protocolo da Universidade dos Açores com alguns milhões e que não chegaram. O tal de diversos dossiês adiados. Esse tal Governo, como os antecessores, merece crítica pública. À contrario, quando o Governo da República faz o que lhe compete ou vai além disso, é credor e merecedor de elogios. Cumprir apenas parte desta dicotomia é não trabalhar com base na verdade e na coerência. É continuar no beco. Só isso explica o gáudio com o IVA 0% para o chicharro e, uns dias antes, a referencia à “mão estendida”, “esmola” ou “queixinhas” na questão da exclusão dos agricultores Açorianos aos apoios nacionais. Ou isso quererá dizer já outra coisa?