Há pouco em Lisboa, livre dos afazeres de presidente da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Atletismo, arrisquei a compra de um bilhete de ingresso para um jogo de futebol em Alvalade. Tinha menos de duas horas para um pequeno trajeto de autoestrada e a inevitável fila da bilheteira. Mas tratando-se de um Sporting-Santa Clara, valia a pena tentar. São ambos meus clubes. Defendo tudo o que é da minha terra. E tendo jogado nos encarnados de Ponta Delgada, nos campeonatos nacionais, mais razões me levam a apoiar uma equipa que é açoriana e luta pela permanência, que o mesmo é dizer, pela sua dignidade desportiva.
Fiz-me ao caminho com um amigo, disposto a esta aventura contra o tempo, mesmo sendo benfiquista. Chegados ao estádio, deparamo-nos com uma longa fila. Muito longa, mesmo, assemelhando-se às que se desenham nos dias de dérbi, e o meu amigo aproveitou-se da circunstância para insinuar que o vermelho-e-branco santaclarense provocava medo entre os donos da casa…
Ainda esperávamos distantes da bilheteira quando surgiu um adepto leonino angustiado. Percorreu a fila perguntando por um bilhete a mais. Coisa improvável entre quem aguardava longos minutos pela compra de um ingresso. Insistia e voltava a insistir. Finalmente, alguém por ali passando disponibilizou um bilhete. Resposta imediata do sôfrego adepto: “mas não tenho dinheiro”.
Logo me veio à ideia o Parlamento dos Açores, onde tudo se exige, até mesmo o improvável, pouco importando se o erário público tem ou não dinheiro para sustentar toda esta sorte de devaneios partidários.