O Governo Regional dos Açores quer alargar o programa Novos Idosos, que apoia idosos que permaneçam em casa, a todas as ilhas do arquipélago, com fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), avançou hoje o vice-presidente.

“Fizemos uma proposta de alargar o programa Novos Idosos a todos os concelhos. Espero que o PRR considere esta experiência inovadora e que permita que possamos, nos Açores, ter um projeto-piloto regional de resposta, de bem-estar aos idosos. A intenção do Governo é alargar a todos os concelhos dos Açores”, afirmou, em declarações aos jornalistas, o vice-presidente do executivo açoriano, Artur Lima.

O governante, que tutela a área da Solidariedade Social nos Açores, falava à margem de uma visita a uma idosa do concelho da Praia da Vitória, na ilha Terceira, beneficiária deste programa, que atribui um apoio máximo de 948 euros mensais por idoso, para que consigam permanecer nas suas habitações.

O projeto-piloto arrancou nos concelhos de Ponta Delgada (São Miguel) e Praia da Vitória, com 50 vagas em cada, e já foi alargado a Vila Franca do Campo e Lagoa, em São Miguel, e ao concelho da Horta, na ilha do Faial, com mais 50 vagas em cada.

No âmbito do reforço de verbas do PRR, que vai atribuir mais 64 milhões de euros aos Açores, o executivo açoriano propôs um alargamento do projeto-piloto a todas as ilhas, mas Artur Lima não revelou qual o montante previsto ou o número de vagas a abrir em cada concelho, alegando que seria ainda necessário um “processo negocial”, caso o projeto fosse aprovado.

“Temos tido bons ‘feedbacks’, de gente que estava acamada e que hoje já se levanta, de gente que estava com dificuldades cognitivas e hoje já fala e já comunica bem. Entendemos fazer a proposta para alargar, passar de um projeto-piloto concelhio para um projeto-piloto regional. Acho que o PRR vai aprovar”, salientou o vice-presidente do Governo Regional.

Nos primeiros dois concelhos, a implementação do programa “está praticamente concluída”, com 94 idosos já apoiados, tendo sido criados 86 postos de trabalho.

Em Vila Franca do Campo, Lagoa e Horta, foram recebidas 327 propostas para as 150 vagas existentes.

Com 82 anos, Maria de Lurdes Laranjeira, residente na vila das Lajes, foi uma das primeiras beneficiárias deste programa nos Açores, que disse ter surgido como um “milagre”, numa altura em que necessitava de apoio.

“Eu tive o privilégio de ser logo atendida. Foi uma graça que nosso Senhor me concedeu. Estou tão bem servida”, contou ao vice-presidente do Governo Regional, confessando nunca ter esperado recebê-lo em sua casa.

“Estava a ficar muito atrapalhada” e as filhas decidiram contratar uma cuidadora para lhe dar algum apoio na higiene, mas, com o programa, pode alargar o horário da cuidadora e passou a ter acesso a apoio técnico do Lar D. Pedro V.

As técnicas trazem-lhe trabalhos “para puxar pela memória” e até já a convenceram a partilhar uma receita de alcatra, prato tradicional da ilha.

Délia Pinheiro, cuidadora de Maria de Lurdes, regista uma evolução na memória da utente, desde que o programa arrancou.

“Como é que uma senhora com 82 anos ainda se lembra? A conta de somar, de diminuir, de dividir. Ela ainda se lembra disso tudo. É muito bom puxar pela memória dela, porque muita coisa está esquecida”, revelou.

Cuidadora de idosos há três anos, começou por apoiar Maria de Lurdes apenas na higiene, de manhã, mas hoje regressa à tarde, para tratar do jantar e para lhe fazer companhia.

Délia Pinheiro admitiu que, no início, é difícil as utentes “aceitarem” a presença de uma cuidadora, mas “com um certo jeitinho” e diálogo, acabam por aprender uma com a outra.

“É como um casal, a remar os dois para o mesmo lado. Desde que a gente consiga esta sintonia, belíssimo”, explicou.

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