A oposição na Câmara Municipal da Praia da Vitória criticou hoje a forma como o executivo camarário (PSD/CDS-PP) geriu a reestruturação da cooperativa Praia Cultural, mas o PSD alegou que o problema foi provocado pelo PS.

“A senhora presidente diz que quer recorrer ao Fundo de Apoio Municipal e por causa disso tem de avançar para despedimentos, quando ninguém conhece qualquer orientação ou documento do Fundo de Apoio Municipal que indique isso”, adiantou, em declarações à Lusa, o vereador do PS no município Berto Messias.

“Foi mal gerido. Nem foi completamente explicado aos próprios funcionários. Há um sentimento de insegurança, há muitas dúvidas sobre todo o processo”, acrescentou a deputada municipal do grupo de cidadãos “Esta é a nossa Praia” Rita Borges.

A cooperativa Praia Cultural, inserida no grupo municipal da Praia da Vitória, integra 165 trabalhadores com contrato sem termo e oito com contrato a termo.

Na sequência de uma auditoria às contas do grupo municipal, que identificou um passivo de 33,2 milhões de euros, a presidente do município, Vânia Ferreira (PSD/CDS-PP), que tomou posse em 2021, decidiu reestruturar a cooperativa, integrando os funcionários na câmara municipal.

Na terça-feira, a autarca revelou que 30 funcionários tinham aceitado rescisões por mútuo acordo, mas no dia 10 de março, quando anunciou as condições de rescisão, Vânia Ferreira disse que o município só teria capacidade para absorver entre 80 e 100 trabalhadores.

O vereador socialista Berto Messias defendeu, no entanto, que “não era necessário” recorrer a despedimentos na cooperativa, acusando a autarca de falta de critérios, por prever contratações para o município no mapa de pessoal para 2023.

“É um processo mal conduzido, é uma teimosia e uma opção política da senhora presidente, que nós lamentamos e achamos que o futuro da Praia da Vitória não passa de todo por esta estratégia”, frisou.

Berto Messias lembrou que a cooperativa assegurava serviços não apenas na área cultural, mas educativa, desportiva e turística, criticando a “falta de visão estratégica” do executivo camarário.

“Só se pode dizer que existem funcionários a mais se soubermos que serviços queremos prestar à população. O PS entende que os serviços que a cooperativa hoje presta são fundamentais para o concelho. A senhora presidente diz que não, mas não diz de quais serviços vai abdicar”, vincou.

Rita Borges, do grupo de cidadãos, admitiu que os despedimentos fossem necessários, mas criticou a forma “impreparada” como o processo foi gerido.

“Há um ano que tem havido esta ameaça de despedimento e achamos que não foi a melhor forma de se tratar do processo, porque todos os funcionários acabaram por receber, de igual modo, uma carta, para o mútuo acordo”, explicou, alegando que foi “uma forma de desresponsabilizar a própria câmara”.

A deputada municipal salientou que “não foram dadas todas as respostas necessárias” aos trabalhadores e que “não foi apresentado um estudo” sobre as necessidades de recursos humanos dos diferentes departamentos.

“É uma situação muito complicada, estamos a falar de famílias, de postos de trabalho e da própria atividade da cooperativa Praia Cultural”, alertou.

Já o PSD, partido que gere o executivo, em coligação com o CDS-PP, disse que a situação resulta da “irresponsabilidade de gestão” do PS, que liderou a autarquia durante 16 anos, até 2021.

“A cooperativa Praia Cultural assumiu uma dívida gigantesca, com um encargo financeiro elevado e com um número de recursos humanos muito acima das suas capacidades”, afirmou Rui Espínola, vice-presidente do PSD da Praia da Vitória.

O dirigente social-democrata elogiou a forma “transparente” e “com diálogo” com que o executivo municipal tem conduzido o processo.

“Não é bom ter de dispensar colaboradores, até porque estamos a falar de pessoas que têm famílias e encargos, mas a verdade é que é um mal necessário para levarmos a bom porto a missão da cooperativa Praia Cultural e do município da Praia da Vitória, que é trabalhar em prol do desenvolvimento do seu concelho e de todos os praienses”, apontou.