A expressão que dá título a este texto é, pelo menos na ilha do Pico, muito utilizada. Tem por significado, de forma simples, pôr termo a qualquer assunto ou decisão sem pés nem cabeça. O meu saudoso tio António Raúl – homem que “andou por cima de água mais de 30 anos” – usava muito esta expressão. Provavelmente terá nascido no mar a expressão, mas a verdade é que passou a ser utilizada a propósito de acontecimentos em qualquer sítio. Esta e outras expressões, bem como as máximas “quer-se ver um bom mestre é debaixo de mau tempo” ou “barco com dois comandantes não traça rumo” que o meu sábio tio muito dizia, pairam sempre no meu pensamento quando vejo determinadas notícias e comentários. Recentemente surgiu-me essa célebre expressão em diversas ocasiões. Deixo, para não ser demasiado exaustivo, três exemplos. Ora vejam:
I – Défice e dívida regionais
A tua dívida é maior do que a minha. O teu défice é maior do que o meu. Todos nós assistimos, quase todos os dias, a este número de responsabilização, o qual apenas visa dividir o mal pelas aldeias de forma a colocar o outro pior do que nós. Dizem que isto é política. Não, não é! Ou pelo menos não é uma utilização da dita “política” no seu sentido benigno. Política, no sentido correto, é puxar os Açores para cima; é dar resposta aos problemas; é olhar para a frente… E a verdade é que vejo todos a olhar para trás. Uns gritam que estão a pagar a pesada herança e outros gritam que agora está tudo pior…. Aqui pelo meio, resta-nos gritar, alto e bom som, “põe-me em terra!”
II – Despedimento da CEO
A Sr.ª Cristina – Presidente executiva da TAP – foi despedida, pelo ministro das Finanças, em direto nas televisões no dia 6 de março. Feito este número mediático pelo ministro que até nem tem a tutela direta da TAP, alguém ter-se-á lembrado que isto ainda é um Estado de Direito Democrático. Vai daí, uns dias depois, toca a fazer um despacho a fundamentar a demissão por justa causa e a notificar a Sr.ª Cristina para efeitos de pronúncia no prazo de 10 dias úteis. A Sr.ª Cristina pronunciou-se, através da respetiva oposição, no último dia do prazo (28 de março). O Governo, obviamente, irá manter a sua decisão. A Sr.ª Cristina, que até parece que superou os objetivos, já tem sucessor sentado à porta do gabinete. A justa causa e tudo o resto será decidida por quem de direito e a conta será paga pelos mesmos de sempre. E por isso, resta, mais uma vez, exclamar: “põe-me em terra!”
III – 0% IVA
Não me interessa abordar este assunto do prisma da contradição, em pouco tempo, sobre redução de IVA e afins, uma vez que entendo que é sempre tempo de tomar a posição mais acertada. Também não perco tempo a analisar os produtos que cabem no cabaz. A minha inquietude é outra. E diz respeito a um foguetório que vai por aí. Li e ouvi cada comentário… Esta gente vai ao supermercado? Esta gente sabe que estamos a falar de cêntimos de “poupança”? Não, não sou contra a medida! Todas as medidas são bem-vindas! Quanto a claques e foguetes…. Façam como eu e digam assim: “põe-me em terra!”