Opinião: Alexandra Manes | Natural como a sua sede

As declarações de José Manuel Bolieiroface ao aumento do custo dos transportes públicos terrestres, levaram-me a recordar o “velhinho” anúncio publicitário de uma conhecida marca de água engarrafada, que nos transportava para um cenário alegre, onde, em qualquer situação, estava ali a garrafa com água, pronta a beber, afinal era “tão natural como a sua sede”.

Só que, ao contrário da disponibilidade da água para nos “matar” a sede, o presidente desta Região demonstra a maior indiferença face às pessoas que diariamente recorrem aos transportes públicos para se deslocarem.

Ao contrário das grandes cidades europeias, onde tem havido um forte investimento na acessibilidade aos transportes públicos e um aumento substancial da sua utilização, nos Açores ainda persiste um estigma relativamente a este meio de transporte. Claro que quando temos decisores políticos que não entendem a importância e os benefícios da utilização do transporte público, a tendência será a de a comunidade desvalorizar e entender este meio como sendo para estudantes e para pessoas sem capacidade económica para aquisição de viatura própria.

É factual a discriminação negativa a que as e os utentes de transportes públicos terrestres estão sujeitos. Note-se que o governo regional não ousou, e bem, subir os preços na tarifa Açores, nem os dos transportes marítimos. A desculpa da inflação só serve aos transportes públicos terrestres?

O recente aumento de 5%, nos transportes públicos terrestres, demonstra bem a hipocrisia que existe na repetida frase: “maior pendor social de sempre”, utilizada para definir o orçamento e a estratégia política, tal como revela a insensibilidade, por parte deste governo, para com as pessoas que se deslocam em autocarros.

Numa altura de grande dificuldade financeira, com a subida abrupta das taxas de juro e com o nível de vida cada vez mais caro, o que faz o governo regional? Dá sinal positivo para o aumento do custo dos bilhetes e passes, de forma encapotada, acrescentando mais um aumento aos restantes que já se acentuam.

Certamente que José Manuel Bolieiro vive alienado da realidade quotidiana, caso contrário não ousaria dizer que a subida inesperada destes bilhetes “faz parte da natureza”. Provavelmente não saberá o custo de um bilhete de autocarro, nem saberá o que representa o aumento de 5%, ao fim do mês, para pessoas que auferem o salário mínimo.

O governo regional havia assumido que não existiriam aumentos em 2023, no que aos transportes públicos diz respeito, tal como, em novembro de 2022, disse que estava a trabalhar para apresentar um passe social, mas chegados a março do corrente ano, nada feito.

O BE tem em análise, no parlamento regional, uma proposta para criação de um passe

açoriano de mobilidade com um custo máximo mensal de 9 euros.

Uma mudança de fundo nos transportes públicos na região que reduzirá os custos para as e os utilizadores e pretende melhorar o serviço, que por regra, não é o melhor.

Importa salientar que no restante território nacional os preços dos transportes estão congelados. No entanto, José Manuel Bolieiro aproveitou a boleia da Autonomia para aumentar o preço e tornar a vida de açorianas e açorianos, ainda, mais complicada.

PUB